Mais da metade da população argentina está abaixo da linha de pobreza


O número de argentinos vivendo abaixo da linha da pobreza aumentou no primeiro semestre de 2024, de acordo com levantamento do Instituto Nacional de Estatísticas e Censos (Indec). O estudo, que abrange 31 aglomerados urbanos do país sul-americano, aponta que 52,9% dos argentinos estão em situação de pobreza.

Os novos dados reforçam a pressão sobre o presidente Javier Milei, que completou 10 meses de governo em setembro. No período, a Argentina segue passando por uma forte crise econômica e social, com dívidas elevadas, reservas internacionais escassas, câmbio enfraquecido e uma inflação na casa dos 236%.

Durante os seis primeiros meses da gestão de Milei, 3,4 milhões de pessoas ingressaram na faixa de pobreza, atingindo um total de 15,7 milhões de habitantes, um aumento de 11,2% em relação ao segundo semestre de 2023, quando 12,3 milhões de pessoas estavam nesta situação. O critério utilizado pelo Indec para classificar um cidadão abaixo da linha da pobreza foi o rendimento das famílias e o acesso a necessidades essenciais, como alimentos, vestimenta, transporte, educação e saúde.

Ainda conforme a pesquisa, 5,4 milhões de argentinos, ou 18,1% da população, estão em situação de indigência no país, 1,9 milhão a mais que no levantamento do segundo semestre de 2023, quando o número correspondia a 3,5 milhões de pessoas (11,9% da população). O Indec classifica como situação de indigência as pessoas que não têm acesso a uma cesta de alimentos suficiente para suprir as necessidades diárias de energia e proteína.

SITUAÇÃO ECONÔMICA DA ARGENTINA

Desde que Javier Milei assumiu o poder na Argentina, em dezembro de 2023, o índice mensal de preços caiu dos 25,5% quando assumiu para 4,2% em agosto deste ano. Ainda assim, o acumulado dos últimos 12 meses é de 236,7%. No entanto, o presidente argentino ainda trata esta queda inflacionária como um dos trunfos de sua gestão.

Milei tem uma política econômica focada no corte de gastos e no ajuste de contas públicas durante o seu mandato até aqui. A sua ideia é de que, melhorando a parte fiscal, a economia argentina exalará mais confiança a investidores, o que facilitará investimentos privados no país.

O chamado ‘Plano Motosserra’ de Milei determinou uma desvalorização do câmbio, paralisação de obras públicas e o corte de subsídios em tarifas de serviços essenciais. No entanto, ao mesmo tempo, em que a inflação desacelerou, a base de comparação subiu: desde o ano passado, os preços de água, gás, luz e transporte público estão bem mais altos.

Conforme planejado, apesar da impopularidade de suas ações, Milei viu as reservas de dólar aumentarem e a Argentina registrar o seu primeiro superávit fiscal desde 2008. Especialistas analisam, no entanto, que o câmbio permanece instável, as reservas não tem crescido rapidamente o bastante e a dívida pública continua a ser um problema. Com isso, o cenário a longo prazo começa a preocupar até quem inicialmente apoiou as medidas de Milei.