Desde que assumiu a Presidência, em 2011, Dilma Rousseff demitiu, substituiu ou aceitou a demissão de 86 ministros. Em média, um ministro foi demitido ou trocado no governo Dilma a cada 22 dias.
O cálculo da BBC Brasil inclui ministros que tiveram seus postos extintos e não leva em conta dirigentes que assumiram as pastas interinamente.
As últimas saídas ocorreram nesta semana, quando membros de partidos que deixaram a base do governo entregaram os cargos. Dos 38 ministros empossados quando Dilma assumiu em 2011, só três permanecem nos postos originais: Izabella Teixeira (Meio Ambiente), Tereza Campello (Desenvolvimento Social) e Alexandre Tombini (Banco Central).
Para Ricardo Ismael, cientista político e diretor do Departamento de Ciências Sociais da PUC-Rio, a alta rotatividade expõe o fracasso de Dilma em montar uma base de apoio no Congresso, que culminou com a aprovação do processo de impeachment na Câmara no domingo.
Na votação na Câmara, Dilma só recebeu o apoio de um quarto dos deputados.
Força e prestígio
Ismael diz que, tradicionalmente, a nomeação de ministros no Brasil é usada para dar força e prestígio à base governista no Congresso. Grande parte dos ministros é indicada por partidos, que, em troca, comprometem-se a apoiar o governo nas votações no Legislativo. Ao assumir as pastas, muitos ministros alojam aliados políticos nos órgãos.
“Mas Dilma não tem conseguido nem ganhar apoios nem nomear pessoas capazes de iniciativas que possam trazer algum impacto positivo para a sociedade”, opina o professor.
Ismael afirma ainda que as trocas constantes prejudicam a função essencial dos ministérios: formular e executar políticas públicas. “Embora os ministérios tenham uma burocracia estável que faz a máquina andar, é o ministro quem dá o tom e define a agenda.”
Alguns dos ministros nomeados por Dilma não tinham experiência ou reconhecimento nas áreas tratadas por suas pastas – algo que também ocorreu em governos anteriores.
Dono de um restaurante e graduado em letras, o deputado federal Celso Pansera (PDMB-RJ) chefiou o Ministério de Ciência e Tecnologia. Seu antecessor – o hoje ministro da Defesa, Aldo Rebelo (PCdoB-AL) – já disse duvidar da influência humana nas mudanças climáticas, posição extremamente minoritária entre os cientistas.
Pastor da Igreja Universal do Reino de Deus, o senador Marcelo Crivella (PRB-RJ) dirigiu a extinta Secretaria da Pesca.
Pesca e Portos foram as pastas que tiveram mais trocas no comando, cinco cada. Houve alta rotatividade mesmo em ministérios considerados prioritários pelo governo, como Educação (quatro).
Algumas pessoas chefiaram diferentes pastas. Ministro com maior rodagem nos anos Dilma, Aloizio Mercadante começou o governo na Ciência e Tecnologia, migrou para a Educação, passou à Casa Civil e voltou à Educação, onde segue hoje.
A gestão mais curta foi a do procurador Wellington César Lima e Silva. Após passar 11 dias à frente do Ministério da Justiça em março, abandonou o posto quando o Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu que, para continuar no cargo, deveria renunciar à carreira no Ministério Público.
Parte das trocas e demissões ocorreu no fim de 2015, quando Dilma anunciou a extinção ou integração de alguns ministérios. Uma das pastas fechadas por Dilma – a Secretaria da Micro e Pequena Empresa – havia sido criada por ela mesma dois anos antes. Do total de 39 ministros, chegou-se a 31.
Em março, o número voltou a crescer com a criação de uma pasta para alojar Jaques Wagner, que cedeu a chefia da Casa Civil ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, nomeação atualmente em julgamento pelo STF. Wagner foi empossado como ministro-chefe do Gabinete Pessoal da Presidência da República.
Fonte: BBC
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