Como Everton Ribeiro se aproximou do AfroReggae e deu voz contra o racismo


O posicionamento de Everton Ribeiro nas redes sociais contra o racismo nos últimos dias foi um dos mais veementes entre jogadores de futebol do Brasil. Enquanto lá fora muitos atletas se juntaram a protestos antirracistas, aqui o capitão do Flamengo não só se manifestou como abriu suas redes sociais para que temas relacionados à população negra fossem debatidos.

A postura de Everton não é de agora. Desde o ano passado, o jogador se engajou em projetos sociais do AfroReggae em favelas do Rio de Janeiro. A possibilidade veio através de Bruna, esposa do meia Diego Ribas, que também mantinha contato com William Reis, coordenador do movimento. Partiu dela a indicação para que Everton fosse procurado.

– Eu o conheci através da Bruna, esposa do Diego. Meu primeiro contato foi com ela. Levamos o Diego para conhecer o AfroReggae. Eu queria outro jogador que gostasse disso para conhecer o projeto. Ela disse que conhecia uma pessoa ideal. Meu primeiro contato foi com a Marília (esposa do Everton Ribeiro), ficamos amigos. Depois, com ela grávida do segundo filho, o Everton se aproximou, me passou o telefone e começamos a conversar – contou William.

Everton passou a visitar favelas no Rio de Janeiro. Em Vigário Geral, conheceu um centro de e-sports. Colaborou com financiamentos e distribuição de cestas básicas e álcool em gel. No ano passado, leiloou junto com Diego Ribas uma camisa usada na Libertadores para arrecadar fundos.

– Por causa deles dois, a gente conseguiu que debates com personalidades negras sobre racismo.

– Ele me procurou e foi bem sincero. Disse: “Eu quero me posicionar, mas eu sei que sou uma pessoa branca, não passo por isso. Queria sua opinião para saber o que você acha que eu deveria colocar”. Perguntei a ele o que ele entendia sobre racismo. Ele disse que, depois que começou a frequentar as favelas, começou a perceber que a maioria das pessoas era negra, entendeu que isso era um processo ainda da escravidão. Pediu para me indicar pessoas para ele seguir e aprender mais – relatou William.

William e Everton alinharam juntos o projeto das lives nas redes sociais. A expectativa é que as ações não parem por aí: o meia se colocou à disposição para participar de novas iniciativas. Por enquanto, fica a importância de usar sua voz para ajudar a debater o assunto.

– Acho que é de extrema importância o envolvimento dessas pessoas que têm influência. Historicamente, as pessoas do esporte que se posicionaram a favor de uma luta que tivesse desigualdade sofreram represálias, e de forma alguma ele recuou. Ele tinha muito mais a perder do que ganhar. Mas o mundo é outro. Mesmo ele sendo uma pessoa branca, é importante, porque está dando a influência dele para que as pessoas negras tenham visibilidade e falem do racismo – elogiou William.

– Temos voz para isso. Temos uma população que nos vê como exemplo. Temos a mídia para ser utilizada em grandes causas. Primeiro, temos que nos preparar e conhecer a causa que vamos abordar. É preciso se posicionar sabendo o que está falando e não só por estar em evidência. É aprender para ter argumentos – explicou Everton.

Veja o posicionamento de Everton nas redes sociais:

“Quando comecei a frequentar as favelas do Rio através do AfroReggae, percebi que não era uma coincidência que a maioria das pessoas ali fossem negras. Diante de tanta notícia triste sobre racismo aqui no Brasil e no mundo, conversei com uma pessoa negra, William Reis, pois entendo que essa não é a minha realidade, sei que somos tratados de forma diferente por causa da nossa cor de pele e que temos que olhar ao nosso redor e ter empatia.

Pude perceber que existe um racismo estrutural no Brasil e que ele mata e exclui pessoas negras. Não é normal que em um país onde a maioria da população é negra, eles sejam minoria em universidades e grandes empresas. Estou disposto a aprender mais sobre isso a cada dia e disposto a usar minha influência para dar voz a pessoas negras que lutam por um país com mais igualdade.Não quero ficar em silêncio e compactuar com um país que mata um negro a cada 23 minutos.‘Em uma sociedade racista, não basta não ser racista, é preciso ser antirracista’: Angela Davis.”