Até 10 mil microrganismos, como bactérias e fungos, podem ser encontrados em roupas íntimas usadas, de acordo com um estudo realizado pela Faculdade Devry/Unicamp, em Campinas (SP). O risco para a saúde vai de irritação até inflamações e infecção urinária recorrentes. Para o levantamento, realizado pela professora Rosana Siqueira, foram analisadas as 52 peças, sendo 27 novas compradas em lojas de shopping e centro da cidade de Campinas, e 25 usadas analisadas após lavagem. As mostras usadas foram doadas por homens e mulheres com idades entre 20 e 55 anos. Entre as peças usadas, 92% das amostras estavam contaminadas com contagens elevadas que variaram de 8 a 10 mil microrganismos. Segundo Rosana, “o que mais preocupa no estudo é que as peças foram analisadas depois de lavadas”.
— Ou seja, não foram higienizadas corretamente. Além de infecções urinárias, esses microrganismos podem entrar em contato com a mucosa, principalmente se pessoa estiver com irritação, coceira ou ferida. A pessoa pode ter infecções urinárias recorrentes. Em relação às calcinhas, todas as 14 amostras estavam contaminadas. Em uma delas foram encontradas 250 bactérias. Das cinco amostras de peças íntimas infantis, 90% estavam contaminadas. Nos sutiãs foram encontradas as bactérias E. coli, Candida krusei, S. aureus, Proteus mirabilis e K. pneumoniae, todas envolvidas em quadro de infecções urinárias, de pele, intestinal e de garganta.
— No sutiã, esses microrganismos podem invadir alguma ferida, como no caso de pessoas que passaram por cirurgia na região ou em mães que amamentam, que tendem a ter rachaduras nos seios. Essas feridas podem ser porta de entrada para estes microrganismos, que podem provocar infecções diversas, inflamações, abcessos e outras enfermidades.
Rosana diz que os microrganismos encontrados são provenientes do ambiente, e chegam às peças íntimas por meio da água usada na lavagem, do ar quando ficam expostas no varal, “do próprio ambiente doméstico quando ficam guardadas em gavetas sem a devida higienização ou não são passados [a ferro] ou através do próprio usuário”.
Segundo a professora, “por estarem sempre em contato com a pele, com secreção vaginal ou peniana, suor, urina, sangue, fezes e microrganismos presentes na região intima, as lingeries se tornam propícias para o desenvolvimento de bactérias, fungos, vírus e parasita”.
O ideal é que essas peças sejam lavadas, passadas [a ferro] e guardadas em local limpo, longe de umidade. “E nunca pegar emprestado ou emprestar roupas íntimas”, ressalta a especialista.
Peças novas
Dos acessórios novos, 85% tiveram crescimento de bactérias e 29%, além das bactérias, apresentaram contaminação por fungos. Nas cuecas, de cinco amostras, quatro estavam contaminadas, uma delas com mais de 100 bactérias. Os microrganismos isolados foram Staphylococcus saprophyticus e Cândida albicans — ambos causam infecções urinárias.
Forro virado, nem pensar!
Dicas simples podem te ajudar a evitar a contaminação de suas roupas íntimas, como não colocar as peças para secar no varal com o “forrinho” voltado para o sol e evitar usar shampoo quando lavá-las no banheiro, explica a professora.
Além disso, de acordo com o ginecologista e membro da SOGESP (Sociedade de Ginecologia e Obstetrícia do Estado de São Paulo) Rodrigo da Rosa Filho, o recomendável é nunca usar as peças íntimas sem lavar, inclusive as novas.
— O ideal é lavar com sabão ou sabonete neutro, que não tenha amaciante. Não só pela questão da higiene, mas também para evitar alergia a produtos com cheiros e substâncias fortes.
Não tem problema lavar a calcinha ou a cueca no banho, mas nunca se deve pendurar a peça íntima para secar no banheiro, afirma o ginecologista.
— O banheiro é um lugar úmido que pode aumentar a proliferação de bactérias. Por isso, o ideal é pendurar a peça íntima no varal com o forro virado para dentro. Muita gente faz o contrário para secar mais rápido, mas isso pode aumentar as chances de contaminação externa.
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Ainda segundo o especialista, não se pode usar a mesma peça íntima sem lavar porque liberamos secreções íntimas e xixi durante o dia a dia. Para quem fica o dia inteiro com a mesma roupa, a orientação é usar peças mais leves.
— O ideal é não usar roupas apertadas. Se a mulher estiver com saia ou vestido, por exemplo, ela não precisa se preocupar com a alcinha. Mas usar o dia inteiro calça social ou jeans é ruim porque a região íntima fica bastante apertada e quente, o que aumenta a proliferação de bactérias. Se a pessoa estiver em um lugar com a temperatura alta, ela pode trocar a peça se quiser.
Quantas vezes uso o sutiã?
Já o sutiã pode ser usado mais de uma vez com bom senso, diz Rosa Filho.
— A frequência de uso do sutiã vai depender da temperatura em que a pessoa está e da transpiração. O ideal é não usar a mesma peça sem lavar mais de duas ou três vezes.
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