Pesquisadoras da Ufba estudam como lágrimas de animais podem ajudar problemas oftalmológicos humanos


Pesquisadoras da área de medicina veterinária da Universidade Federal da Bahia (Ufba) desenvolvem um estudo que pode ajudar a sanar problemas oftalmológicos humanos, a partir de lágrimas de animais, como jacarés e tartarugas marinhas. No entanto, a falta de apoio financeiro tem atrasado o desenvolvimento da pesquisa que pode ter impacto farmacêutico.

O estudo é desenvolvido principalmente pelas médicas veterinárias Ana Cláudia Raposo e Ariane Lacerda, sob orientação da doutora em Oftalmologia Veterinária Arianne Oriá, que é professora da Ufba.

Ana Cláudia, que é doutora em Ciência Animal nos Trópicos, explica que sua pesquisa começou a ser desenvolvida em 2013, quando ainda era doutoranda, a partir da análise sobre a composição e as estruturas das lágrimas de diversos animais, principalmente dos répteis.

“Nós percebemos que determinados animais conseguem ficar em diferentes ambientes sem que isso represente uma agressão aos olhos. Imagine como seria se a gente pudesse ficar o tempo todo embaixo da água sem irritar os olhos. Esse entendimento começou a existir a partir da observação dos jacarés, no zoológico de Salvador. Eles ficam muito tempo embaixo da água, que é uma água salobra natural para a sua espécie. Notamos também que além de ficar com o olho aberto nessas condições, ele permanecia cerca de 1h30 sem piscar e sem que isso interferisse na sua proteção ocular”, explica.

Pesquisadoras da Ufba estudam como lágrimas de animais podem ajudar problemas oftalmológicos humanos — Foto: Arianne Oriá/Arquivo pessoal

Pesquisadoras da Ufba estudam como lágrimas de animais podem ajudar problemas oftalmológicos humanos — Foto: Arianne Oriá/Arquivo pessoal

Quando a hipótese surgiu, Ana Cláudia e o grupo de pesquisa precisaram de estrutura para dar prosseguimento aos estudos. As pesquisadoras fizeram diversas parcerias, entre elas o Centro de Triagem de Animais Silvestres (Cetas) do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama).

“O Cetas nos possibilitou ter acesso aos animais e fazer coleta das lágrimas, claro que sempre sendo supervisionados por um comitê de ética e pelo próprio Ibama. Então fomos atrás de entender a composição dessas lágrimas. O professor Ricardo Portela [Ufba] nos possibilitou o uso de uma tecnologia adequada para a gente iniciar os estudos de comparação, foi então que a gente percebeu que estava entrando em temática pertinente”, conta Ana Cláudia.

Apesar da facilitação que conseguiu, o grupo de Ana Cláudia ainda tinha dificuldades em encontrar tecnologia adequada para dar segmento às análises necessárias. Uma nova oportunidade surgiu então a partir de um edital do Ministério da Educação, em 2016.

“O edital do MEC possibilitou um intercâmbio de doutorado pra universidades parceiras. A partir do Brasil, coletamos amostras dos animais e levamos para a Universidade da Califórnia, que tinha um processamento com maior de tecnologia, que nos permitia avaliar minuciosamente aves e répteis, principalmente jacarés e tartarugas marinhas”, detalhou.

Por Itana Alencar, G1 BA