Mesmo diante de percalços, Bahia tem melhor desempenho da história das Olimpíadas


As cinco medalhas alcançadas pela Bahia nos Jogos Olímpicos de Tóquio representam o melhor desempenho do estado na história do evento. O número total é o mesmo da Rio-2016. Porém, se um “quadro de medalhas” baiano fosse realizado, a edição de “2020” ocuparia o primeiro lugar de forma disparada. No total, foram quatro ouros e uma prata, sendo que três desses ouros foram conquistados em apenas 11 horas, superando o que o estado tinha alcançado em mais de 100 anos de Jogos Olímpicos (relembre aqui). Agora, a Bahia possui 20 medalhas em Olimpíadas. A maioria delas, infelizmente, conquistada na base do sacrifício.

SUPERANDO DECEPÇÕES
A medalha de ouro de Ana Marcela Cunha, na maratona aquática dos Jogos Olímpicos de Tóquio 2020 (veja aqui), não traz à tona apenas uma história de treinos e dedicação (saiba mais aqui). Ela também mostra a persistência de uma atleta que superou decepções vividas nas duas edições olímpicas anteriores, após ter estreado aos 16 anos, em Pequim-2008. A primeira foi não ter conseguido a classificação para Londres-2012. A segunda, o doloroso 10º lugar na Rio-2016 para quem era apontada como favorita ao pódio.

“Finalmente! Por mais nova que eu fui em 2008, esse é meu quarto ciclo olímpico. Vindo de uma frustração muito grande com uma não classificação, uma frustração no Rio. Acreditem nos seus sonhos”, comemorou a baiana após o título olímpico em Tóquio.

Foto: Daniel Ramalho / COB

Nascida em Salvador, foi na capital baiana que Ana Marcela Cunha deu suas primeiras braçadas na piscina. Porém, a medalhista de ouro foi forjada em São Paulo, mais precisamente na cidade de Santos, na Universidade Santa Cecília (Unisanta), pela qual é atleta. Há mais de sete anos, com uma interrupção, ela treina com o técnico Fernando Possenti. Mas o ouro em Tóquio não é fim da linha para a baiana em termos de Olimpíadas. A ideia é ir para Paris 2024.

“Tenho o planejamento dela finalizado até junho do ano que vem. E a gente não vai querer participar do próximo ciclo, a gente vai querer ganhar”, declarou o técnico ao BN.

Capital da Bahia, Salvador conta com duas piscinas olímpicas. A primeira foi inaugurada pelo governo estadual em março de 2016, localizada na avenida Mário Leal Ferreira, a Bonocô. Enquanto a segunda, utilizada na Rio-2016, foi trazida pela prefeitura municipal e instalada na orla da Pituba. O equipamento foi entregue em dezembro de 2018 e tem foco no atendimento da população carente. Inclusive, o primeiro baiano medalhista olímpico na natação, Edvaldo “Bala” Valério, é quem coordena o espaço.

PROMESSA DE MEDALHAS
Depois de Ana Marcela, que abriu a porteira para as conquistas baianas no Japão, o canoísta Isaquias Queiroz colocou a tão sonhada e prometida medalha de ouro no peito na prova individual do C1 1000m da canoagem velocidade (saiba detalhes aqui). Após a decepção por ter ficado fora do pódio na C2 1000m, quando disputou ao lado do conterrâneo Jacky Godmann (leia aqui), o “Sem Rim”, como foi apelidado na infância, disse que vomitaria sangue se necessário fosse (relembre aqui) e remou com raiva para completar o percurso absoluto na primeira colocação e lembrar do ex-treinador espanhol Jesus Morlán, morto em novembro de 2018.

“Eram duas. Não conseguimos a do C2, mas a gente pôde realizar o sonho que ele [Morlán] queria, me tornar um campeão olímpico. Eu e Lauro [Jardim, o novo técnico] trabalhamos muito. Essa medalha é minha e dele. Muita gente achou que ele não poderia dar continuidade ao trabalho de Jesus, e hoje ele mostrou que é capaz, não só de me levar ao pódio mas outros atletas também, que eu acredito muito nisso”, afirmou.

A segunda medalha não foi concretizada e por isso a busca de Isaquias não terminou. Aos 27 anos, o atleta pretende fazer um novo ciclo olímpico.

“Vou ser obrigado a ter que ir para Paris para brigar por mais duas medalhas (para ser o maior medalhista olímpico da história do país). O objetivo aqui eram duas medalhas, porque a gente tinha esse pacto com o COB, com o Lauro, com Jesus Morlán, pra transformar em 10 medalhas dele. Ele não pôde estar aqui, mas a gente veio com esse objetivo. A medalha de ouro significa muito. No Rio, não veio, mas o Lauro deu continuidade ao trabalho dele e conseguimos. Sabíamos desde o início que essa medalha era minha, não tinha como ninguém tomar de mim. Mostrei isso na semifinal e na final. Agora é ir pra casa, me casar, curtir as férias e começar a pensar em Paris. Volto a repetir, não vou a Paris a passeio, vou pra fazer o que fiz aqui: brigar pelas medalhas e representar bem o país”, disse.

Foto: Miriam Jeske / COB

Na primeira vez que disputou uma Olimpíada, Isaquias conquistou três medalhas, sendo duas pratas e um bronze na Rio-2016. Naquela ocasião, o governador Rui Costa (PT) prometeu construir três centros de canoagem. O primeiro deles foi inaugurado em julho de 2018 na cidade de Itacaré, de terra de Jacky Godmann (leia aqui). Depois. foi a vez de Ubaitaba, cidade natal de Isaquias, ganhar o seu equipamento, entregue em agosto de 2020. O terceiro está sendo construído em Ubatã, onde nasceu Erlon de Souza, que ganhou a prata junto com Isaquias no C2 em 2016.

CELEIRO HISTÓRICO

Indo de encontro ao baixo investimento no estado, o boxe baiano construiu, mais uma vez, uma linda história em Jogos Olímpicos. Com a alegria de quem sabe o quanto, conotativamente e denotativamente, lutou para estar ali, o “nobre guerreiro” Hebert Conceição bradou de forma retumbante após vencer as quartas de final e garantir no mínimo uma medalha de bronze: “Mereço pra c***”.

Foto: Julio Cesar Guimarães / COB

O empenho e a dedicação lhe reservaram, ainda, a chance de estar em uma final e, com um golpe certeiro de canhota, garantir a medalha de ouro para o Brasil (veja aqui). É a segunda consecutiva da modalidade em Olimpíadas. No Rio de Janeiro, em 2016, o feito foi de Robson Conceição, que nasceu na… isso mesmo, Bahia.

Na esteira da conquista, o governador Rui Costa anunciou, em seu Twitter: “E os atletas baianos merecem e precisam de apoio. Por isso, hoje publicamos no Diário Oficial mais um edital do #BolsaEsporte, que vai assegurar R$ 1,2 milhão para que nossos atletas continuem batalhando por seus sonhos” (confira aqui).

O mesmo Rui, em 2016, prometeu não só a construção do Centro de Treinamento de Canoagem de Ubaitaba, mas também a da Arena de Lutas da Bahia. O primeiro projeto vingou. O segundo até hoje sequer saiu do papel (saiba mais aqui e aqui). “Promessas e conversas, nada mais que isso”, escreveu Robson Conceição sobre o assunto (relembre aqui).

E mesmo sem qualquer tipo de estrutura aceitável para “se descobrir” no boxe, tem atleta que ainda acha que deve algo à Bahia e ao Brasil. Beatriz Ferreira, campeã mundial da categoria peso-leve (até 60 kg), pediu “desculpa” por ter ficado “só” com a medalha de prata nos Jogos Olímpicos. Ela perdeu para a irlandesa Kellie Harrington, por decisão unânime dos juízes (confira aqui).

Foto: Rodolfo Vilela / Ministério da Cidadania

 Essa foi a primeira Olimpíada disputada por Bia, que, na Rio-2016, esteve como sparring de Adriana Araújo. Sim, Adriana também é baiana, e foi medalhista de bronze na Olimpíada de Londres, em 2012. Atualmente, ela não possui patrocínios e tenta a vida no boxe profissional.

Talento é o que não falta à Bahia. Vimos, nesses Jogos Olímpicos um jovem de apenas 21 anos entrar no ringue e, por muito pouco, não garantir outra medalha para o estado. Keno Marley perdeu nas quartas de final para o britânico Benjamin Wittaker, por decisão dividida: 3 a 2. Mas ele mesmo reconhece a pouca idade, e já faz planos para Paris-2024. “Tenho apenas 21 anos, bastante tempo para trabalhar, e quem sabe mais uma ou duas Olimpíadas pela frente”, afirmou após a derrota (leia aqui).

Os exemplos citados até agora não se restringem apenas à Bahia. Afinal, o romântico Darlan Romani teve de dar 200% para ficar com a quarta colocação, e, como se tivesse alguma obrigação conosco, prometeu dar 300% para chegar ao pódio em Paris-2024 (saiba mais aqui). É apenas mais um entre tantos atletas que dedicam sua vida ao esporte diariamente, sem receber o retorno merecido.

Enquanto isso, o baiano Daniel Alves e toda a seleção de futebol masculina do Brasil mostraram, em Tóquio, o que pode ser feito quando um esporte possui investimento – no caso do futebol, pelo menos o europeu, onde a maioria deles joga, astronômico. Daniel, de Juazeiro, chegou ao seu 43º título na carreira. O Brasil, ao bicampeonato olímpico.  Fonte: Bahia Noticias.