Em 19 anos, bangue-bangue político deixa rastro de 14 mortos em Magé (RJ)


rio

Desde 1997, foram mortas ao menos 14 pessoas ligadas à política municipal de Magé, cidade a 60 km da capital e com cerca de 230 mil habitantes na Baixada Fluminense, uma das regiões mais pobres do Rio de Janeiro. O rastro de sangue inclui uma vice-prefeita carbonizada, um vereador assassinado com a mãe e um parlamentar alvejado e morto dentro do estacionamento da Câmara Municipal. Dois desses 14 homicídios ocorreram em 2016.Em janeiro, o vereador Geraldo Gerpe (PSB), o Geraldão, foi abordado quando estava em seu carro, no estacionamento da sede da Câmara de Magé, e assassinado a tiros.

Seis meses depois, a pré-candidata a vereadora Agá Lopes Pinheiro (DEM) foi alvejada quando estava com o marido em um bar no bairro da Barbuda. Os inquéritos estão a cargo da DHBF (Divisão de Homicídios da Baixada Fluminense). 

Até agora, as investigações policiais avançaram pouco e não houve desfecho para a maioria dos casos. Alguns inquéritos foram concluídos, mas os denunciados à Justiça ainda aguardam o julgamento.

Procurada, a Polícia Civil não quis se posicionar. O UOL entrou em contato em duas ocasiões com a assessoria de comunicação, que não respondeu à demanda enviada pela reportagem.

Reprodução/Band

O vereador Geraldo Gerpe tinha 41 anos e era filiado ao PSB

A violência condicionada a circunstâncias eleitorais ou disputas de poder não se limita a Magé. Trata-se de uma realidade que se aplica a outras cidades da Baixada, onde há rivalidades históricas entre grupos políticos, famílias tradicionais, milicianos e até traficantes de drogas, explica o sociólogo José Cláudio Souza Alves, professor da UFRRJ (Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro) e autor da tese “Baixada Fluminense: A Violência na Construção de uma Periferia”.

“Magé vem produzindo isso há bastante tempo. Na cidade, existe de forma geral uma cultura de violência enraizada por dentro do Estado. Existe toda uma estrutura de poder baseada na violência enquanto moeda de troca”, afirma Alves. O acadêmico também é autor do livro “Dos Barões ao Extermínio: A História da Violência na Baixada Fluminense” (Editora Sepe/APPH-Clio).