Catarata é responsável por quase metade das cegueiras reversíveis


Cerca de 49% dos casos de cegueira reversível notificadas no país são causadas pela catarata, conforme o último censo do Conselho Brasileiro de Oftalmologia. Estima-se que a cada ano, o Brasil registre 550 mil novos casos da doença, que requer tratamento cirúrgico, procedimento cuja oferta e procura foi afetada pela pandemia.

Segundo a Secretaria de Saúde da Bahia (Sesab), 82.446 cirurgias de catarata foram realizadas na rede pública estadual em 2019, mas em 2020, o número caiu para 29.414. Este ano, até o final de junho, 17.052 intervenções do tipo haviam sido feitas em todo o estado.

Especialista em catarata e retina cirúrgica, Bruno Régis, do DayHorc, explica que a catarata é provocada pelo envelhecimento do cristalino, uma espécie de lente orgânica localizada dentro do olho. O foco do que enxergamos é responsabilidade do cristalino, que envia essa imagem para a retina, de onde ela segue para o nervo óptico e daí para o cérebro.

“O olho só faz captar a imagem, quem processa é o cérebro. E o cristalino é essa lente condensadora, que pega a imagem, condensa e joga na retina”, comenta o oftalmologista. À medida que o indivíduo vai envelhecendo, o cristalino começa a ficar mais rígido, mais opaco e a aumentar de tamanho.

A elasticidade é fundamental para a acomodação do cristalino, permitindo o foco na imagem tanto de longe quanto de perto. É a redução dessa capacidade de acomodação que motiva a perda de acuidade visual para imagens próximas após os 40 anos, gerando a necessidade de uso de óculos para a presbiopia, mais conhecida como vista cansada.

O início da catarata ocorre de maneira bastante lenta e muitas vezes o paciente não percebe, pois o cérebro se adapta à perda de qualidade captada pelo cristalino, ressalta o médico. Por isso, reforça a importância da realização de exames de rotina, com ida ao oftalmologista ao menos uma vez por ano, para um diagnóstico mais precoce possível.

“Com o passar dos anos a pessoa vai perdendo a qualidade visual, vai enxergando mais embaçado, vai perdendo a sensibilidade ao contraste, a sensibilidade às cores, também pode ter queixas como visão dupla e dificuldade com a luz”, afirma Régis. Como consequência, o paciente que usa óculos começa a ter aumento de grau com frequência, e mesmo com óculos novos não consegue ter uma boa visão.

O especialista lembra que a doença está bastante associada à idade, mas há casos congênitos e também as cataratas secundárias a traumas, inflamações, infecções e uso prolongado de colírios à base de corticoide. Além disso, existem alguns fatores de risco associados à patologia, como o tabagismo, diabetes e uma exposição excessiva à luz solar, a exemplo do que ocorre com lavradores e pessoas que trabalham em salinas ou locais cobertos de neve, onde há muita reflexão da luz.

Tratamento cirúrgico

O oftalmologista esclarece que a catarata só pode ser revertida com tratamento cirúrgico e ressalta a evolução das técnicas aplicadas no procedimento ao longo dos últimos 25 a 30 anos. Antes desses avanços, o mais comum era aguardar o “amadurecimento” da catarata para fazer a intervenção, operando quando a pessoa estava praticamente cega.

“Hoje em dia ninguém espera mais o paciente ficar com a catarata madura, porque antigamente a técnica era muito agressiva, com muitos riscos, então não compensava operar no início”, reforça Régis. Essa mudança também leva em consideração o perfil atual dos idosos, que são mais ativos, então não naturalizam a perda de qualidade da visão. “Continua trabalhando, continua com muitos afazeres, ele quer usar o computador, quer usar o seu celular…”, completa.

Com o desenvolvimento de uma técnica mais moderna, mais rápida e mais segura, na qual a cirurgia é feita com microincisões e dispensa a retirada do cristalino, a tendência é operar mais precocemente.

O médico acrescenta que o desenvolvimento de lentes intraoculares também alterou bastante o tratamento da catarata, pois antigamente era preciso usar, externamente, a chamada lente catral, que compensaria o papel do cristalino removido, com cerca de 20 graus. A grossura das lentes fazia com que os óculos ficassem muito pesados e incômodos.

As primeiras lentes intraoculares substituíam o cristalino dentro do olho, mas geralmente ainda era necessário usar óculos, mas agora já é possível implantar uma lente multifocal, esclarece o especialista. “A gente tem vários tipos diferentes de lente. Cada paciente vai ter um tratamento, um segmento, uma observação individualizada. Você pode corrigir a catarata e o grau do paciente, para perto, para longe, para astigmatismo…”, comenta.

Segundo Régis, a técnica chamada de facoemulsificação é a mais aplicada atualmente, sendo substituída por um método mais antigo apenas em alguns casos extremamente avançados, nos quais não será possível “quebrar” a catarata. Nesse caso, a cirurgia exigirá grandes incisões, gerando um procedimento mais longo e com recuperação mais lenta.

“Vai fazer pequenas incisões, em torno de dois milímetros, nem ponto precisa dar. É uma cirurgia muito rápida, você joga o ultrassom naquela lente dura e opaca e emulsifica, então amolece e suga”, detalha sobre a facoemulsificação. A lente intraocular será implantada pela microincisão, que também pode ser feita com uso de laser. O mais usual é utilizar uma lente dobrável, que só será desdobrada quando já estiver dentro do olho.